DESAFIOS MATEMÁTICOS "O orgulho no ofício obriga os matemáticos de uma geração a desembaraçar-se do trabalho inacabado dos seus antecessores." Autor: (E. T. Bell) “(...)Se nós vivêssemos sem a Matemática, isso fazia com que fossemos regularmente enganados pelos outros(...)” Autor: (Nuno Miguel de Sousa Barreira) "Toda a educação científica que não se inicia com a Matemática é, naturalmente, imperfeita na sua base." Autor: (Auguste Conté)
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
sábado, 22 de novembro de 2014
GESTÃO DEMOCRÁTICA.
Marinei de
Oliveira Mendes e Silva
Resumo: As
mudanças de um modelo centralizador para um modelo descentralizado surgem da
necessidade de desafogar do centro um grande volume de atribuições permitindo
um adequado e racional desempenho. Gerir a entidade escolar fluindo para
mudanças significativas que atenda a comunidade interna e externa da escola. Partir
do princípio que a reatividade impede o sucesso. Enquanto procedimento, este
trabalho realizar-se-á por meio de observação direta e/ou indireta. Uma gestão
que enfrenta o desafio sem buscar sempre justificativas para as limitações de
ações e de resultados ineficazes. O objetivo do artigo é a busca constante de
usar a melhor forma de fazer e atender as exigências para oferecer educação de
qualidade. A visão de futuro como para atender as exigências e oferecer uma
educação de qualidade.
Palavras
chaves: gestão, descentralização e proativo.
Introdução
A qualidade evoluiu
da adequação ao padrão para a adequação às necessidades latentes dos clientes
(SHIBA et alli, 1993). Naturalmente que a gestão da qualidade
acompanhou, também, esta evolução.
O estudo
sobre a gestão da escola é parte integrante da organização curricular do curso
de Gestão e Orientação Educacional e a inserção de estudantes em espaços
escolares ocorre desde o início da formação, através de atividades de Estágio
Supervisionado. Ao problematizar a realidade material, através dessas
atividades, os estudantes têm a oportunidade de irem além do estudo teórico e
aprofundarem a compreensão da escola. Do trabalho continuado de estudo,
observação, reflexão, o interesse pela escola pública e pela gestão escolar foi
aos poucos se transformando e culminou com a pesquisa realizada para o Trabalho
de Conclusão do Curso de Gestão e Orientação Educacional, ocorrida ao longo do
ano de 2014.
O presente
trabalho pauta a importância da gestão escolar que agrega as concepções de
democracia, um grande potencial de transformação na escola e no ensino como um
todo demandando esforço continuo de mudanças como princípio orientador da
sociedade. Uma severa mudança na cultura brasileira incentivando a participação
de todos, na vida escolar, envolvendo a participação de todos nos processos decisórios.
Os avanços democráticos e participativos diretamente relacionados com a
construção da qualidade da educação.
Ser reativo
pode ser considerado um problema, porém pior que ser reativo é ter o perfil
passivo. Ao menos o reativo reage a algum estímulo, enquanto o passivo está lá,
sem agir nem reagir a qualquer que seja a ocasião. Uma gestão reativa é aquele
que não traz ideias, apenas reage às instruções que recebe. A gestão pode assumir
uma postura proativa e propor ações, medidas, planos de formação, sugestão de
mudanças de processos e de procedimentos e consolidar uma posição estratégica
dentro da escola. A mudança não está acontecendo por toda parte. Nossos
paradigmas são como mapas que nos informam como é o território onde estamos
pisando.
O percurso
metodológico utilizado considerou como fundamental a compreensão de que a
metodologia é o “caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da
realidade”. (MINAYO, 1999, p. 16). Tracejada nessa compreensão, a metodologia
adequada nos direciona a abordagem significativa da realidade. Para tanto, foi
necessário à utilização de abordagem quantitativa e qualitativa, pois segundo
BAPTISTA (1999, p. 34) a “abordagem quantitativa quando não exclusiva serve de
fundamento ao conhecimento produzido pela pesquisa qualitativa”, sendo possível
trabalhar com as duas abordagens (qualitativa e qualitativa) de modo a
estabelecer uma relação de complementaridade entre ambas.
GESTÃO
ESCOLAR E SUAS IMPLICAÇÕES
Há uma
máxima no mundo do marketing que diz: vivemos para atender as necessidades
dos clientes. Convenhamos: essa é uma postura muito limitada, e seu DNA é
reativo. Ao seguir esse dogma, a escola torna-se refém do cliente e jamais o
surpreenderá com propostas de valor únicas. Uma definição bastante objetiva e
própria para inovação é: “algo diferente que exerce impacto”. Assim,
inovar não é fazer o mesmo,
porém melhor, mas fazer o novo, de forma notável.
Berlo (1991)
identifica que existe uma relação de interdependência na interação, onde
cada agente depende do outro, isto é, cada qual influencia o outro. Essa
interdependência, é claro, varia em grau, de qualidade e de contexto para
contexto.
A gestão não
é um fim em si mesmo, mas um meio cujo principal objetivo é promover a
qualidade do processo de ensino-aprendizagem (LEDESMA, 2008).
Uma
construção coletiva que propõem uma nova visão sobre educação, podendo
compreender os objetivos e fins da educação, estabelecendo relações no contexto
escolar e sua função enquanto instituição social.
Demonstrando
um novo paradigma que se consolida através de um processo complexo, sendo
fatores condicionantes para a transformação e desestabilização das concepções
de organização e gestão escolar. Assim
A gestão democrática no
sistema educacional público abre possibilidades para que se construa uma escola
pública de qualidade, que atenda aos interesses da maioria da população
brasileira, além de representar uma possibilidade de vivência e aprendizado da democracia,
podendo, portanto, tomar um sentido diferenciado. (AZEVEDO, 2006, p. 510).
As
concepções de educação norteadora das ações existente diariamente devem ser
compreendidas de forma a entender a sociedade focando as ideias que levam a
novas previsões com base na historia real de mundo e a subjetividade humana.
Num universo de relações onde as concepções existentes não são isoladas dentro
desse contexto é tocável, pois existe uma necessidade nata do ser humano de
agrupar e nesse universo existem as interseções sendo conjuntos finitos com
necessidades infinitas embora nem sempre desse a oportunidade de liberdade de
escolha a cerca das defesas dos indivíduos em classe. As concepções visão a
conservação da ordem vigente e concepções que buscam a transformação social.
Para Libâneo
et al (2007, p. 323)
“se situássemos as
concepções de gestão em uma linha contínua, teríamos em um extremo a concepção
técnico-científica (também chamada científico-racional) e, no outro, a
concepção sócio crítica”.
Em se
tratando da concepção técnico científica “prevalece uma visão burocrática e
tecnicista da escola. A direção é centralizada em uma pessoa, as decisões vêm
de cima para baixo e basta cumprir um plano previamente elaborado sem a
participação de professores, especialistas, alunos e funcionários”. (LIBÂNEO et al, 2007, p. 323). Nessa
concepção, o princípio fundamental da organização escolar é a busca de maiores
índices de eficiência e eficácia e em seus resultados, tomando a realidade como
algo objetivo, neutro, passível de ser controlado.
Contrariamente
a concepção técnico-científica, temos a sócio crítica, onde a organização
escolar é concebida como um sistema que agrega pessoas, considerando o caráter
intencional de suas ações e interações sociais que estabelecem entre si e com o
contexto sociopolítico, nas formas democráticas de tomadas de decisões. A
organização escolar não é algo objetivo, elemento neutro a ser observado, mas
construção social levada a efeito pelos professores, alunos, pelos pais e até
por integrantes da comunidade próxima. O processo de tomada de decisões dá-se
coletivamente, possibilitando aos membros do grupo discutir e deliberar, em uma
relação de colaboração. (LIBÂNEO et al,
2007, p. 324).
Como se vê que a
escola, historicamente construída pela humanidade, foi ampliando seu papel,
acumulando tanto o papel de socializar e multiplicar os saberes científicos
quanto assumindo a formação para o exercício da cidadania e a inserção dos
indivíduos ao mercado de trabalho. Assim, a escola tornou-se um ambiente cujo
objetivo é a formação de pessoas. Neste sentido, segundo Libâneo et al.
(Educação Escolar: políticas, estrutura e organização, 2007, p. 315):
(...) seus objetivos
dirigem-se para a educação e a formação de pessoas; seu processo de trabalho
tem uma natureza eminentemente interativa, com forte presença das relações
interpessoais; o desempenho das práticas educativas implica uma ação coletiva
de profissionais; o grupo de profissionais tem níveis muito semelhantes de
qualificação, perdendo relevância as relações hierárquicas; os resultados do
processo educativo são de natureza muito mais qualitativa que quantitativa; os
alunos são ao mesmo tempo, usuários de um serviço e membros da organização escolar.
Em se tratando de
formação de pessoas, a missão de cada Escola torna-se mais importante quando
verificamos o que diz a Lei de diretrizes e Bases da Educação no seu artigo 2º
(...) “a missão de cada Escola, de cada gestor, de cada professor, é promover o
pleno desenvolvimento do educando, preparando-o para a cidadania e
qualificando-o para o trabalho”.
Pleno
desenvolvimento significa dar conta de várias outras dimensões que,
trabalhadas, culminam com a plenitude do ser humano. Quão diferente seria se a
cada atividade, o professor e toda a equipe escolar tivesse em mente que estará
promovendo o pleno desenvolvimento do educando!
Com uma missão tão
nobre, a escola precisa pensar sua administração e o dispositivo legal, lei
9.394/96 no seu Art. 12, atribui as seguintes incumbências aos estabelecimentos
de ensino:
I - elaborar e
executar sua proposta pedagógica;
II - administrar
seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
III - assegurar o
cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;
IV - velar pelo
cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V - prover meios
para a recuperação dos alunos de menor rendimento;
VI - articular-se
com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade
com a escola;
VII - informar pai
e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis
legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução
da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009).
A partir do
processo de redemocratização do país, iniciado na década de 1980, a Escola
passou por muitas mudanças, sobretudo, do ponto de vista administrativo, tendo
em vista que a escola “define-se como unidade social que reúne pessoas que
interagem entre si, intencionalmente, operando por meio de estruturas e de
processos organizativos próprios, a fim de alcançar objetivos educacionais”.
Libâneo (2007, p. 316).
A Constituição de
1988 e a LDB de 1996, determinam a autonomia da escola no sentido de elaborar
sua própria proposta pedagógica, organizar e administrar sua estrutura e
funcionamento. A partir daí, várias concepções de administração consolidar-se-iam
no âmbito da escola, destacando-se a mudança do termo administração para o de
gestão escolar, dando assim, uma conotação de maior participação dos envolvidos
no processo educacional escolar. Assim, segundo Libâneo (op.cit. p. 323): “a
organização e os processos de gestão assumem diferentes modalidades, conforme a
concepção que se tenha das finalidades sociais e políticas da educação em
relação à sociedade e à formação dos alunos”.
Tal contexto indica que a gestão da mudança e da inovação refere-se ao modo
de gestão de recursos humanos, ou seja, o clima escolar é fator de
desenvolvimento de seres humanos, o qual é construído a partir das percepções e
entendimentos dos atores escolares, quanto às práticas de políticas públicas no
dia a dia escolar. Assim sendo, se o clima demonstrar característica
participativa e aberta a mudanças haverá estímulo no desenvolvimento de
programas de reforma e aperfeiçoamento.
A intensidade da força dos atores escolares na condução de determinados
objetivos desencadeia situações de consenso e sentido às novas aquisições, as
quais passam a corroborar na consecução destes mesmos objetivos. Por esse
entendimento, a participação do indivíduo no processo de tomada de decisão na
organização escolar, torna-se altamente produtiva e influencia diretamente a
atuação dos professores e dos alunos. São os seres humanos que garantem a
integração e a cooperação nas ações do cotidiano escolar, sendo que:
[...] o engano da teoria da máquina da organização é a suposição de que as
pessoas são ferramentas para a realização de um determinado propósito e de que
seu trabalho pode ser planejado sem consideração à variabilidade e reatividade
humanas (KATZ, KAHN, 1974, p. 140).
Gerir uma escola é
um trabalho nada fácil. São vários aspectos que precisam de atenção ao mesmo
tempo: pedagógico, financeiro, estrutural, questões relacionais entre
professores, responsáveis, educandos, dentre outros; e as constantes mudanças
socioculturais não permitem mais uma administração centralizada. Atualmente,
precisam-se dividir as responsabilidades e decidir coletivamente as ações e
objetivos.
Neste processo,
surge o conceito de Gestão que, segundo Buss (2008) é compreendida como uma
inovação no ato de administrar, pois se trata de buscar a participação do
coletivo, minimizando a hierarquia e o poder individualizado. Na opinião de
Luck (2000, apud Buss, p. 22),
“o conceito de gestão está
associado ao fortalecimento da democratização do processo pedagógico, à
participação responsável de todos nas decisões necessárias e na sua efetivação
mediante um compromisso coletivo com resultados educacionais cada vez mais
efetivos e significativos”.
O conceito de
Gestão está ligado a outras demandas, tais como a exigência de uma educação de
qualidade, a emergência da sociedade do conhecimento, as conquistas políticas
educacionais contemporâneas, as pesquisas científicas no campo da administração
e gestão da educação escolar. Neste sentido, o gestor (diretor da escola)
deverá concentrar seu olhar em três direções sistematicamente. Segundo Buss
(2008, p. 23):
Gestão pedagógica: é a ação
mais importante, institui objetivos para o ensino-aprendizagem, propõe metas
para a concretização das propostas pedagógicas e sua avaliação. O articulador é
o Gestor Escolar.
Gestão de Recursos
humanos: Gestão de pessoas: alunos, professores, comunidade escolar em geral.
Gestão
Administrativa: zela pela parte física da escola, burocrática da instituição,
direitos e deveres de todos os agentes da unidade e cumprimento do regimento
interno escolar.
Neste sentido, a
ação do gestor vai além dos aspectos administrativos, burocráticos,
escriturários. Ele torna-se o principal catalisador, que se compromete com a
comunidade em proporcionar um serviço de qualidade, com competências para
organizar os trabalhos administrativos burocráticos, liderar politicamente, ou
seja, ter a legitimidade da sua função e acima de tudo exercer o trabalho
pedagógico.
Porém, diferentes
concepções de gestão têm-se configurado no cenário educacional brasileiro.
Dentre elas, destacam-se:
A concepção
técnico-científica reflete uma educação voltada exclusivamente para o mercado
de trabalho, com influências claras do modelo de produção Taylor-fordista, e da
psicologia behaviorista. Segundo Libâneo (op.cit. p. 327), com
“poder
centralizado no diretor, destacando-se as relações de subordinação, em que uns
têm mais autoridade do que outros”.
Neste caso, a administração
é regulada por um conjunto de normas, regras, procedimentos burocráticos de
controle das atividades, descuidando-se das pessoas e dos objetivos
institucionais, mas enfatizando o cumprimento de tarefas. Libâneo (2007).
A concepção de
gestão autogestionária caracteriza-se pelo poder coletivo na escola. As
decisões são deliberadas a partir de assembléias e reuniões, eliminando-se
todas as formas de autoridade e de poder individualizado. No dizer de Libâneo
(op.cit. p. 237), a gestão autogestionária prima pela
“auto-organização do grupo de
pessoas da instituição, por meio de eleições e de alternância no exercício de
funções. Recusa a normas e a sistemas de controle, acentuando a
responsabilidade coletiva (...), com ênfase nas inter-relações, mais do que nas
tarefas”.
Libâneo (op. cit.
p. 237) diz que a gestão interpretativa “considera como elemento prioritário na
análise dos processos de organização e gestão os significados subjetivos, as
intenções e a interação das pessoas”. Neste sentido, este tipo de gestão prioriza
mais a “ação organizadora” e menos o “ato de organizar”. Ou seja, a ação
organizadora reflete as interpretações, as percepções, as experiências, os
valores e o fazer dos agentes educacionais, minimizando os aspectos normativos,
formais e estruturais e, maximizando os valores e as práticas vivenciadas.
Assim, a gestão interpretativa contrapõe-se radicalmente à gestão
técnico-científica.
Já a gestão
democrático-participativa se propõe a articular, pelo diretor, a proatividade e
a participação dos agentes educacionais que se relacionam com ele. Nosso autor
diz que a gestão democrático-participativa “busca objetividade no trato das
questões da organização e da gestão, mediante coleta de informações reais”
(op.cit. p. 237), de acordo com os objetivos sociopolíticos e pedagógicos da
instituição. Neste sentido, o gestor acompanha e avalia sistematicamente todos
os trabalhos, diagnosticando os problemas e reorientando o rumo das ações e
tomadas de decisão. Neste tipo de gestão “todos dirigem e são dirigidos; todos avaliam
e são avaliados. A ênfase se concentra tanto nas tarefas quanto nas relações”.
(op.cit. p. 237).
Percebe-se que a
proposta democrático-participativa busca a participação de professores,
funcionários, conselhos, supervisores, representantes de pais e alunos,
mediados, ou melhor, catalisado pela direção. Para que isso ocorra, há
valorização do planejamento, da organização, do processo avaliativo, das
tomadas de decisões dos agentes educacionais, objetivando êxito nos objetivos
específicos da escola e principalmente no processo de ensino-aprendizagem.
Mesmo existindo
diferentes concepções de Gestão, não se pode escamotear o conteúdo cultural dos
indivíduos, ou seja, não se pode negar que fatores do imaginário, da formação,
da bagagem cultural não interfiram na forma dos professores ensinarem e de
diretores administrarem suas escolas. Neste sentido pode afirmar, seguindo o
pensamento de Libâneo (2007, p. 319):
A bagagem cultural
dos indivíduos contribui para definir a cultura organizacional da organização
de que fazem parte. Isto significa que as organizações – a escola, a família, a
empresa, o hospital, a prisão, etc. – vão formando uma cultura própria, de modo
que os valores, as crenças, os modos de agir dos indivíduos e sua subjetividade
são elementos essenciais para compreender a dinâmica interna delas.
Pode-se ressaltar
que não são só aspectos antropológicos, psicológicos e vivenciais que
interferem na cultura organizacional de uma escola ou outra instituição
qualquer. Percebe-se que, principalmente, em cidades provincianas há fortes
influências políticas nas administrações escolares. Corroborando este
pensamento, cita-se novamente o dizer do nosso autor (op.cit. p. 322):
Uma visão sócio crítica propõe
compreender dois aspectos interligados: de um lado, a organização como
construção social envolvendo a experiência subjetiva e cultural das pessoas; de
outro, essa construção não como um processo livre e voluntário, mas mediatizado
pela realidade sociocultural e política mais ampla, incluindo a influência de
forças externas e internas marcadas por interesses de grupos sociais sempre
contraditórios e às vezes, conflituosos.
Com isso quer se
afirmar que, em muitas organizações escolares de pequenas cidades, a gestão
escolar é delegada a funcionários públicos, em cargo comissionados, com forte
influência de grupos dominantes ou apadrinhamentos políticos. Situação bastante
desafiadora por que ao diretor compete conciliar interesse e valores pessoais,
subjetividades, valores coletivos, interesses políticos, exigências
comunitárias, gerenciais, e outros aspectos, harmonizando gestão pedagógica,
gestão de recursos humanos e gestão administrativa, objetivando a formação
integral de crianças, adolescentes e jovens, que é a missão maior da
instituição escolar.
A Educação é um
fenômeno cultural. Acontece em todos os lugares e de diferentes maneiras.
Muitas vezes pode esta a serviço das classes dominantes, mas também é
considerada a mola propulsora para o crescimento, integração efetiva na
sociedade e emancipação da pessoa.
O lugar por
excelência da educação é a escola. Foi criada histórica e socialmente para a
transmissão e conhecimentos, valores e princípios, objetivando o
desenvolvimento de habilidades necessárias ao processo de integração social e
cultural.
No cenário
educacional brasileiro, constitucionalmente, existe a possibilidade de atuarem
diferentes concepções pedagógicas. Sendo assim, coexistem concepções liberais e
progressistas de educação, que por sua vez influenciam na administração,
organização e gestão escolar. Entretanto, as concepções liberais estão
superadas pelas concepções progressistas e sócio críticas. Estas, por sua vez
requerem uma postura renovada do gestor escolar, caracterizada pelo abandono da
centralização do poder, da burocracia, do conservadorismo e, abraçando uma
postura mais dialógica, de divisão das responsabilidades, do estabelecimento de
uma administração que envolva todas as pessoas que compõem a estrutura, que
direta ou indiretamente estão ligadas ao processo de ensino-aprendizagem.
Na atualidade,
administrar uma instituição escolar é permitir a participação de todos. O
aprendizado contínuo da equipe e a divisão de papéis. O diretor é o líder
principal. Contudo, isso não impede a existência de outras lideranças que
ajudem a gerir áreas específicas da escola. Porém, cabe a ele identificar
competências e preferências de seus auxiliares para melhor aproveitar as
habilidades de cada um.
Para que isso
aconteça a contento, o gestor escolar precisa ser consciente de que o exercício
de sua profissão esteja pautado no Projeto Político Pedagógico da escola,
elaborado com a participação de toda a comunidade escolar. E que por este
motivo, torna-se a espinha dorsal de todo o desenvolvimento da organização
escolar. A sua elaboração significa autonomia e identidade da escola.
Na escola é refletida a
questão social, tanto no aspecto da compreensão da sociedade como no
compromisso que a escola possui com a sociedade no que tange a formação da
cidadania, englobando os aspectos da razão e do conhecimento e também os
aspectos da sensibilidade e dos valores. Tudo isso deve ser trabalhado no
interior da escola, criando meios para a vivência da interação grupal.
Grinspun (2002) afirma que a orientação
Educacional se apresenta como uma das promotoras da escola, levando a perceber
que educar é um ato político.
Buscando trazer elementos da realidade do
aluno que favoreça sua compreensão de seu meio, de suas expectativas e de seus
interesses.
A Orientação Educacional
têm sua atuação na relação com os alunos onde os: valores, a formação da
cidadania, a questão da liberdade, a produção do conhecimento, etc... fazem
parte de uma reflexão global. A orientação tem, nas reflexões desses aspectos,
a principal base da fundamentação de suas atividades, sendo que as tendências
da educação propiciarão o desenvolvimento das atividades para a obtenção dos
objetivos pretendidos.
Quanto a este assunto,
apontamos que a articulação da Orientadora (da escola em questão) na elaboração
e execução do Projeto Político Pedagógico com a comunidade ocorria de forma
pouco democrática, mesmo porque a sua atuação não lhe dava “poderes” de grandes
intervenções em ações relacionadas a este tópico. Pode-se dizer que a escola
investigada não constrói seu Projeto Pedagógico com todos os membros da escola,
ou seja, sua elaboração fica sob a responsabilidade da equipe de direção, sem
grandes participações do corpo docente, discente e dos pais dos alunos.
A partir das necessidades do desenvolvimento
integral do aluno: física, intelectual, social, emocional, moral, vocacional e
profissional, percebeu-se a necessidade de um profissional que atendesse e
orientasse os alunos, entendendo, que a escola não mais atua apenas na
transmissão do saber científico, mas também no desenvolvimento social e
cultural de seus educandos. Mediante essa interação que está além do
ensino-aprendizagem surge o papel do orientador educacional que tem como
objetivo orientar o aluno no conhecimento pessoal e do ambiente sociocultural
onde está inserido, a fim de que este tome decisões acertadas e reflexivas
mediante ao seu desenvolvimento pessoal e social (GIACAGLIA; PENTEADO,
2006).
De acordo com o pensamento de Grinspun (2001), O
tamanho social e a dimensão histórica brasileira, repercutem fortemente na
execução da tarefa educacional do país. A qualidade existente nas orientações
faz com que se perceba que o caráter contido nas teorias que os Orientadores
Educacionais utilizaram no transcorrer dos tempos estavam arroladas, na maioria
das vezes, ás ações que careciam de ser desenvolvidas pela criança/aluno, para
sua própria formação. Neste caso, o Orientador Educacional tinha seu trabalho
voltado apenas para o integral desenvolvimento do aluno.
Grinspun (2001) acrescenta ainda que:
Um profissional que possuía alto sentido de
autoridade e conhecimento no campo educacional e cuja pratica se estendia, além
da orientação ao aluno, á formação de um clima educativo, na escola, para que o
educando pudesse ter um bom desempenho nesta instituição. (GRINSPUN, 2001)
As finalidades do
trabalho de uma escola podem ser regidas sob uma visão de interesses de apenas
uma parte dos participantes do cotidiano escolar, ou seja, de seus mantenedores
e realizadores as quais buscam, muitas vezes, além de uma educação de qualidade,
o propósito, por exemplo, de ampliação da instituição (com o objetivo de obter
mais alunos). Essa questão acaba fazendo parte da vida escolar de muitas instituições
particulares de ensino, pois sua sobrevivência depende do número de alunos que
compõem o quadro discente.
CONCLUSÃO
Este texto
teve como propósito demonstrar uma contribuição à compreensão do papel
desempenhado pelo diretor escolar nas escolas públicas do Distrito Federal. Os
dados coletados ajudam a entender que a proposta de gestão democrática precisa
ser entendida como processo inacabado e permeado por contradições.
Ao adotar a
eleição como central para prover os cargos de direção visto que a participação da
população possibilita a realização através da participação.
Em se
tratando do exercício das atribuições específicas do diretor escolar, tais como
distribuir as funções e cada um desempenha uma função, contemplando os eixos
administrativo, pedagógico, financeiro e político-comunitário, sendo que a
prioridade das ações centra-se no eixo financeiro, demonstrando uma gestão da
educação voltada para “eficiência econômica”.
No eixo
pedagógico, muitas atribuições foram priorizadas: a construção, a efetivação e a
avaliação do Projeto político-pedagógico; a preocupação com a aprendizagem dos
alunos, com o rendimento escolar, com a assiduidade; intervenção em aspectos
indisciplinares e o contato com pais e responsáveis. No entanto, atribuições
como o incentivo ao uso de metodologias diversificadas de trabalho e a criação e
execução de propostas de inclusão. De acordo com a análise documental e observação
obtem na interpretação, desse fato que evidencia
uma contradição entre discurso e prática, visto que as ações que não foram
consideradas prioridade são justamente ações que possibilitam alcançar êxito
nas ações ditas prioritárias.
As
atribuições que compõem o eixo político-comunitário também se mostraram
frágeis, pois a integração ao eixo político-comunitário se constitui um dos
alicerces fundamentais da gestão democrático-participativa e é evidente
divergências quanto à dedicação a esse eixo de trabalho.
Para a
concretização da gestão democrática torna-se fundamental aproximar a comunidade
da instituição escolar, promovendo a participação, desenvolvendo parcerias e
principalmente, compartilhando poderes de modo a fazer com que a população
usuária participe das decisões institucionais, indicando prioridades, a serem
contempladas no PPP, visando sempre, propiciar uma educação de qualidade a
todos.
Buscar a
participação da família na vida escolar dos filhos é preciso criar mecanismos
concretos que viabilizem a participação, como por exemplo, programar projetos
que objetivem fomentar a participação da comunidade escolar.
Um dos importantes
papéis do diretor escolar é: assumir a postura de elemento articulador dos
vários segmentos escolares em torno da concretização do PPP. A questão da falta
de funcionários é um problema grave que se evidencia no cotidiano. A falta de
funcionários traz reflexos de caráter administrativo, pedagógico e até mesmo
político-comunitário. Para sanar carências de pessoal, o diretor acaba
assumindo outras funções: pedagogo, regente de sala de aula, escriturário, ou
seja, suas atribuições específicas são deixadas em segundo plano.
Além da
postura de articulador, o diretor enquanto educador que possui funções
pedagógicas e sociais precisa, também, assumir uma postura democrática no
exercício diário de suas várias atribuições, permeando suas ações pelo diálogo
horizontal e pelo trabalho coletivo.
Existe a preocupação
e comprometimento com o processo ensino-aprendizagem, com mais ênfase nos
resultados do que no processo como um todo; preocupação com a organização e o
andamento das atividades escolares; e, ainda, a preocupação em relação ao
cumprimento das normas estabelecidas pela Secretaria Estadual de Educação.
Essas
preocupações são pertinentes, mas não devem se constituir empecilhos que
limitam as ações do diretor escolar. Também é preciso reverter posturas
quantitativas e dedicar-se mais ao processo de aprendizagem do que nos
resultados propriamente ditos, pois só assim a meta de ensino de qualidade será
efetivamente alcançada. Deve-se ainda, superar a preocupação demasiada com
aspectos organizacionais, fazendo da escola um organismo vivo, em constante
interação com sua comunidade, ampliando, pois, o conceito de educação e escola,
na perspectiva que a “escola vai além muros” e por fim, é necessário
desvincular-se da preocupação excessiva com as normas estabelecidas pela
Secretaria de Educação, desenvolvendo a autonomia escolar, fortalecendo-se
enquanto instituição educativa, fundada em bases democráticas e dessa forma,
permeada pelo trabalho coletivo, pelo diálogo, pela criatividade e pela
autonomia.
Em outras
palavras, a concepção democrática precisa ser fortalecida nas unidades de
ensino da rede distrital de forma a possibilitar o avanço qualitativo no campo
educacional. Esse fortalecimento se constitui no primeiro passo para a
construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ao concluir
o presente texto, considerar-se os resultados a um produto provisório sobre a
atuação do diretor escolar. Nesse sentido consideramos que o produto do
conhecimento elaborado, enquanto processo, sempre é provisório e, assim sendo,
devem alimentar novos processos de investigação.
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